terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Referendo: Marques Mendes diz que posição de Sócrates é "radical" e "extremista"

O líder do PSD, Luís Marques Mendes, considerou hoje "radical" e "extremista" a posição do primeiro-ministro, José Sócrates, de recusar alterar a lei sobre a despenalização da interrupção voluntária da gravidez caso o "não" vença no referendo do próximo domingo.

"Não compreendo posições radicais e extremistas. Existem pessoas que parecem mais interessadas no jogo partidário do que em resolver os problemas das mulheres", afirmou Marques Mendes, em declarações aos jornalistas no final de uma visita à Casa de Protecção e Amparo de Santo António, instituição de apoio às mães solteiras.

No domingo, o secretário-geral do PS, José Sócrates, garantiu que "se o 'não' ganhar, a lei ficará como está", em resposta aos movimentos contra a interrupção voluntária da gravidez que querem alterar a moldura penal do aborto após o referendo, introduzindo a suspensão provisória dos julgamentos já proposta por duas deputadas independentes nas listas do PS.

Confrontado com estas declarações, Marques Mendes insistiu na adopção de uma "solução moderada" que passe por "evitar o aborto livre e construir na Assembleia da República uma solução que retire a penalização às mulheres" que interrompam a gravidez.

"É possível conciliar essas duas soluções", garantiu o líder social-democrata, considerando que existe um "grande consenso" à volta destas duas questões, porque as pessoas "não querem o aborto livre, nem a penalização das mulheres".

Questionado sobre se esta solução não significaria a aceitação do aborto clandestino, Marques Mendes rejeitou a ideia, considerando que se trata "exactamente do contrário". "O aborto clandestino é um drama, mas a solução é combatê-lo, por exemplo ajudando instituições com esta que hoje visitei, apoiando as mulheres e as mães em dificuldades", sublinhou o líder do PSD, partido que não tem posição oficial para o referendo de domingo.

Marques Mendes rejeitou igualmente as críticas de que a solução que defende representa uma contradição, insistindo que se trata de "uma posição moderada" e recordando que sempre foi esta a sua posição. "Nem o aborto livre é solução, nem a prisão das mulheres", insistiu, defendendo que o caminho deve ser "apoiar a vida e combater o aborto".

O líder do PSD disse ainda que a proposta que defende de alterar a actual lei sobre o aborto, retirando a penalização para as mulheres que interrompam a gravidez, contribui para o esclarecimento dos eleitores "que ainda estão cheios de dúvidas". "Ninguém quer o aborto e evitá-lo é votar 'não'", acrescentou, Marques Mendes.

No final visita à Casa de Protecção e Amparo de Santo António, instituição que acolhe perto de 30 mães e grávidas com uma idade média de 16 anos, o líder do PSD assinalou a importância de mostrar "que há alternativas a o aborto e à prisão das mulheres" e "alternativas para as grávidas em dificuldade".

Insistindo que "é possível evitar o aborto", Marques Mendes reiterou a necessidade do Estado dar um maior apoio a instituições como a Casa de Protecção e Amparo de Santo António. "Com a ajuda da sociedade e o apoio do Estado é possível evitar o aborto", afirmou.

PÚBLICO